sábado, 16 de outubro de 2010

Dezasseis de Outubro

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Nesta data que hoje vou

Recordar uma vez mais,

Uma cegonha pousou

No telhado dos meus pais.

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Deslizou devagarinho

Como quem vinha por bem

E foi pôr-me com carinho

Nos braços da minha mãe.

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Foi um correio especial

Que acabava de chegar,

Uma prenda filial

P´ra dar vida àquele lar.

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Como é que isto pode ser,

Ninguém pára o progresso,

A encomenda veio cá ter

Sem ter selo nem endereço.

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Foram instantes d’alegria

Vividos naquela hora,

Que lembramos dia a dia

Pela nossa vida fora.

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Tantos anos já passaram

Desde a minha meninice,

Que ao longo me deixaram

Caminhando prá velhice.

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Mas não quero hoje chorar

Sobre as folhas do calendário

E feliz…vou festejar

Mais um dia d’aniversário.

Rama Lyon

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terça-feira, 12 de outubro de 2010

Lágrimas de emigrante

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Lágrimas de emigrante

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Nos braços duma quimera

Converti-me em emigrante,

Ganhei a saudade austera

Que me abraça a cada instante.

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Ao partir ao Deus dará,

A minha aldeia deixei

E ninguém hoje saberá

Quando eu lá voltarei.

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Tendo o Céu como parceiro

Nesta minha grande empresa,

Sou um pobre mensageiro

Da cultura portuguesa.

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Assim ando vagueando

Pelos trilhos que Deus quis,

Nesta vida caminhando

A clamar o meu país.

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Sem juiz fui condenado

Como um dia o foi Jesus,

Sigo sempre carregado

Com o peso da minha cruz.

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Como um ser que hoje tem

Um fado em cada esquina,

Não torno culpas a ninguém,

Esta é bem a minha sina.

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Essa mesma que um dia

Me trocará a vida errante

Por uma grande alegria,

De não mais ser emigrante.

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Rama Lyon

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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Tenho ciumes do luar

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Tenho ciúmes do luar

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Escrevi versos à lua

E da noite fiz canção.

Vou cantá-la na tua rua

Virado ao teu coração.

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Preparei uma guitarra

E afinei a minha voz,

Pra cantar com toda a garra

Este amor que há entre nós.

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Peço à lua resplandecente

Com seus raios cor de prata,

P’ra ser nossa confidente

Nesta linda serenata.

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Penso bem ver-te à janela

Com o brilho da lua cheia,

Nessa tua graça singela

Que a sorrir me incendeia.

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Como simples pobrezinho

Que com pouco se consola,

Quero apenas um beijinho,

Que me dês, como esmola.

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Quem me dera poder ver-te

No teu leito repousada

E a cantar poder dizer-te

Que tu és a minha amada.

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Mas confesso estar farto

E ter ciúmes desse luar

Que dormita no teu quarto

Onde eu não posso entrar.

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Rama Lyon

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