A selva espera-nos
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Conforme havia sido previsto no dia anterior, ainda o sol não tinha rompido no horizonte e já nós se encontráva-mos numa lancha a motor, que ao cabo de algumas horas de viagem, nos deixaria em Cacine para aí prosseguirmos de carro até ao nosso destino.
Antes de mais nada, vou descrever aqui as instruções que havíamos recebido nessa madrugada.
A companhia dividida em quatro pelotões, iria cumprir a sua missão de soberania em Sangonhã e Cacoca. A sede desta companhia era em Sangonhã, sendo Cacoca um destacamento.
Como a lancha não tivesse capacidade para levar todos os homens ali presentes, embarcarmos só dois pelotões. Um com rumo a Sangonhã e outro a Cacoca. Eu fiquei no pelotão que ia com destino a Cacoca, no qual iam mais três condutores. Eram eles, Manuel Pires Soares, João Pereira Henriques e Carlos Manuel Leal.
Para melhor esclarecimento, convém frisar aqui, que estes dois aquartelamentos se encontravam a cerca de
E agora que acabei de apresentar as ultimas instruções que havia recebido, vou convidar o amável leitor a vir comigo passar umas ‘‘férias’’, de que ninguém sabe ainda quantos meses, na beleza da verdadeira selva africana.
Talvez que não goste muito do transporte utilizado e ainda ter que vir empoleirado em cima de caixotes e malas, mas é o único meio que se nos apresenta neste momento.
Bissau foi ficando gradualmente para trás, ao passo que a pequena embarcação deslizava nas águas calmas do golfo que vem beijar a Guiné. Num último adeus à cidade, nós demonstráva-mos claramente, o grande desejo de um dia lá voltar com a nossa missão cumprida.
Seria depois o nosso regresso à mãe Pátria, marcando o final da nossa carreira militar; o final da nossa árdua tarefa.
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Extracto do livro ''Uma página da minha vida''
da autoria de António Rama, hoje
com o pseudónimo de Rama Lyon
4 comentários:
Ainda me lembro que um dos primeiros comentarios que lhe fiz no cantinho da poesia (belos tempos do cantinho), foi sobre um poema em que falava dos soldados da guerra, em que eu lhe disse que lhe deveriam ter dado uma caneta e nao uma arma. Magnifica ideia esta, deste texto. Gostaria de ter a sua permissao para o colocar no viver e sentir. Se nao, nao faz mal, eu entenderei. Um domingo para si e para a cidalia com muita amizade.
Por favor!!...Sabe perfeitamente que tudo o que publicar de minha autoria nos seus blogues é para mim uma grande honra e, um enorme prazer. Autorizada a cem por cento.
Um grande abraço nosso
Gostei muito do que li...como a sua memória será rica com momentos tão marcantes! Gostaria imenso, não de ter vivido esses momentos, mas de ter a oportunidade de os poder descrever.
Sempre gostei de jornalismo escrito, longe do sensacionalismo de todas as imagens que hoje em dia nos entram em casa. Seria bom que não houvessem guerras, mas não me importaria nada de estar na linha da frente, se fosse casa disso, para poder descrever, não os tiros das armas, mas sim o dia a dia, daqueles que eram obrigados a disparar, mesmo que esse não fosse o seu desejo...eu sei que o desejo da missão cumprida se consumou para bem de todos nós.
Obrigado pelo prazer que me deu com a leitura do seu relato.
Eduardo
O Eduardo dedicou-lhe um poema que eu editei em lacos e viver. Boa semana
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